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Jornalista e universitário, Juiz de Fora, MG, Brasil
terça-feira, 9 de dezembro de 2025
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terça-feira, 25 de novembro de 2025
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quarta-feira, 19 de novembro de 2025
sexta-feira, 14 de novembro de 2025
A cidade ea República
Sempre foi objeto de interesse dos historiadores o fato de a proclamação da República ter sido logo aceita e festejada na cidade, geralmente mencionado como uma das mais influentes do Império, notadamente na segunda metade da gestão de D Pedro II. Juiz de Fora era muito prestigiada no Império, cinco vezes visitada oficialmente pelo imperador, num tempo em que sai de Petrópolis e chega aqui custava 14 horas de sacrifícios em viagem de diligência e revezamento de mulas. É certo que ele e a corte dedicavam muita atenção às figuras proeminentes locais. O que comprova o fato de que, naquele 15 de novembro, 136 anos passados, quando estava sendo inaugurada a república, residiam aqui 29 barões e viscondes, com um detalhe para ampliar consideravelmente a nobreza juiz-forana: entre aqueles 29 nada menos de 10 foram presidentes de províncias, o que equivaleria, hoje, ao cargo de governador de estado.
Pois, não é que, apesar de toda aquela prestígio, a queda do amigo D. Pedro foi rapidamente assimilada pelas lideranças locais. Pedro Nava, no “Balão Cativo”, escreveu, veementemente: “A cidade aderiu à república com o mesmo açodamento indecente do resto da província”. Quanto aos nobres, a adesão ficou perto da unanimidade. Houve o caso singular de Manoel José Vieira Tosta, barão de Muritiba, ex-presidente de Pernambuco e Sergipe: tão logo soube do banimento, vendeu o solar da rua Direita, doou as ações que tinha do Colégio Progresso para estudantes pobres, e, voluntariamente, acompanhou D Pedro rumo ao exílio.
Pelos jornais, e segundo numerosos depoimentos de historiadores, o Império vivia dificuldades crescentes. Em Juiz de Fora, como em outros grandes centros de produção cafeeira, a abrupta libertação dos escravos comprometeu interesses, e essa foi uma contribuição para que a corte ruísse.
O DIA D
Quando chegou na manhã de 15 de novembro, os monarquistas derrotados e os republicanos vitoriosos só sabiam à noite, porque o telégrafo não funcionava, resultado de um violento temporal, que chegou com negociações de granizo e desabou durante 15 minutos. Contaram os jornais que chegaram a cair pedra do tamanho de ovo, com muita destruição, o Fórum totalmente destelhado, casas destruídas, os morros da cidade ficaram brancos…
Só foram saber da novidade à noite, com o telégrafo parcialmente restaurado. Os republicanos concentraram-se no Café Imprensa, Rua Direita, 41, que aconteceram abertos, para as comemorações, durante toda a madrugada. O primeiro telegrama que chegou, confirmando o fim do Império, foi afixado na parede. Os vitoriosos subiram à rua Halfeld, motivados por Heitor Guimarães, cantando versão tupiniquim da Marselhesa.
Uma festa que passou quente, mas sem que se registrassem grandes problemas para a polícia.
(Sobre o clima daqueles dias, um fato pitoresco, que veio dos últimos anos do velho regime: antes de surgir a Praça da Estação, havia no local um espaço cercado para criação de porcos. Ali se revesavam, carregando cartazes, monarquistas e republicanos, com mútua ofensa: diziam ser o lugar apropriado para pregar suas ideias, sob aplausos da plateia suína…)
OS REPUBLICANOS
Se, como se disse, Juiz de Fora era uma referência de prestígio monarquista, seria incorreto negar a importância ativista dos republicanos, muito presentes nos corredores e salas do Fórum. Entre eles, há quatro destaques a registrar: Constantino Paleta e Luiz Detzi, com 27 anos de idade, João Penido, Francisco Isidoro, que completara 25 anos, e o vereador Fonseca Hermes, mais tarde convidado por Floriano Peixoto para a Secretaria-Geral da Presidência da República, o que equivaleria à atual Casa Civil.
(Penido havia se notabilizado, pouco antes, quando, na solenidade de sua formatura, no Rio, recusara-se a beijar a mão do imperador no palácio São Cristóvão. O castigo seria a suspensão imediata da carta de doutorado, mas o próprio D Pedro impediu que a punição fosse aplicada).
Naquelas primeiras horas já havia uma divergência entre as novas eminências, que prosperou por algum tempo. Na formação do Conselho de Intendência, primeira ação política do novo tempo, lá estavam Constantino, Detzi e Isidoro, mas, num cochilo, deixaram que a presidência caísse nas mãos de Antero José Lage Barbosa, que vinha do conselho anterior, de formação monarquista… Isso porque os republicanos tinham seus problemas internos. Como se viu na noite de 20 de julho de 1888, quando o notável pregador Silva Jardim veio para falar, no Teatro Provisório, na rua Halfeld, mas teve de sair do palco, até que o auditório parasse de brigar.
A IMPRENSA
Menos acomodados que os amigos do imperador, os simpáticos à república vinham se utilizando largamente da imprensa para a divulgação de seus planos de mobilização e estimular a população a apoiar o novo regime. Conta Almir de Oliveira em “A Imprensa em Juiz de Fora”, página 35, que “o combate à monarquia suscitou o jornalismo republicano”, mesmo que, em sua maioria, valendo-se de jornais de efêmera duração. O primeiro foi “A Bússola”, de 1881, semanário de três colunas, editado por Eduardo Ludolf e Carlos Muratori, tendo Inácio Gama como redator-chefe. Lembremo-nos que Inácio foi o primeiro historiador da cidade.
Depois, vieram “O Echo do Povo”, em cujas páginas vai surgir o mais agitado dos nossos republicanos, João Severiano Fonseca Hermes, antecedendo o lançamento de “A Propaganda”, em 1886. Ali estavam, além de Hermes, Constantino Paleta, João D’Ávila, Avelino Lisboa, precedendo a circulação do “15 de Novembro”, de Leovegildo Apense. Treze anos depois, 1894, mesmo com a república constitucionalizada, temeroso de que a monarquia ainda era uma ameaça, Estêvam de Oliveira criou o “Correio de Minas”. Custou acreditar que a História havia virado a página.
A cidade e a República
Sempre foi objeto de interesse dos historiadores o fato de a proclamação da República ter sido logo aceita e festejada na cidade, geralmente citada como uma das mais influentes do Império, notadamente na segunda metade da gestão de D Pedro II. Juiz de Fora era muito prestigiada no Império, cinco vezes oficialmente visitada pelo imperador, num tempo em que sair de Petrópolis e chegar aqui custava 14 horas de sacrifício em viagem de diligência e revezamento de mulas. É certo que ele e a corte dedicavam muita atenção às figuras preeminentes locais. O que comprova o fato de que, naquele 15 de novembro, 136 anos passados, quando estava sendo inaugurada a república, residiam aqui 29 barões e viscondes, com um detalhe para ampliar consideravelmente a nobreza juiz-forana: entre aqueles 29 nada menos de 10 foram presidentes de províncias, o que equivaleria, hoje, ao cargo de governador de estado.
Pois, não é que, apesar de todo aquele prestígio, a queda do amigo D. Pedro rapidamente foi assimilada pelas lideranças locais. Pedro Nava, em “Balão Cativo”, escreveu, veemente: “A cidade aderiu à república com o mesmo açodamento indecente do resto da província”. Quanto aos nobres, a adesão ficou perto da unanimidade. Houve o caso singular de Manoel José Vieira Tosta, barão de Muritiba, ex-presidente de Pernambuco e Sergipe: tão logo soube do banimento, vendeu o solar da rua Direita, doou as ações que tinha do Colégio Progresso para estudantes pobres, e, voluntariamente, acompanhou D Pedro rumo ao exílio.
Pelos jornais, e segundo numerosos depoimentos de historiadores, o Império vivia crescentes dificuldades. Em Juiz de Fora, como em outros grandes centros de produção cafeeira, a abrupta libertação dos escravos comprometeu interesses, e essa foi uma contribuição para que a corte ruísse.
O DIA D
Quando veio a manhã de 15 de novembro, os monarquistas derrotados e os republicanos vitoriosos só ficaram sabendo à noite, porque o telégrafo não funcionava, resultado de um violento temporal, que chegou com precipitação de granizo e desabou durante 15 minutos. Contaram os jornais que chegou a cair pedra do tamanho de ovo, com muita destruição, o Fórum totalmente destelhado, casas destruídas, os morros da cidade ficaram brancos…
Só foram saber da novidade à noite, com o telégrafo parcialmente restabelecido. Os republicanos concentraram-se no Café Imprensa, Rua Direita, 41, que permaneceu aberto, para as comemorações, durante toda a madrugada. O primeiro telegrama que chegou, confirmando o fim do Império, foi afixado na parede. Os vitoriosos subiram a rua Halfeld, motivados por Heitor Guimarães, cantando versão tupiniquim da Marselhesa.
Uma festa que passou quente, mas sem que se registrassem grandes problemas para a polícia.
(Sobre o clima daqueles dias, um fato pitoresco, que veio dos últimos anos do velho regime: antes de surgir a Praça da Estação, havia no local um espaço cercado para criação de porcos. Ali se revesavam, carregando cartazes, monarquistas e republicanos, com mútua ofensa: diziam ser o lugar apropriado para pregar suas ideias, sob aplausos da plateia suína…)
OS REPUBLICANOS
Se, como se disse, Juiz de Fora era uma referência de prestígio monarquista, seria incorreto negar a importância ativista dos republicanos, muito presentes nos corredores e salas do Fórum. Entre eles, há quatro destaques a registrar: Constantino Paleta e Luiz Detzi, com 27 anos de idade, João Penido, Francisco Isidoro, que completara 25 anos, e o vereador Fonseca Hermes, mais tarde convidado por Floriano Peixoto para a Secretaria-Geral da Presidência da República, o que equivaleria à atual Casa Civil.
(Penido havia se notabilizado, pouco antes, quando, na solenidade de sua formatura, no Rio, recusara-se a beijar a mão do imperador no palácio São Cristóvão. O castigo seria a suspensão imediata da carta de doutorado, mas o próprio D Pedro impediu que a punição fosse aplicada).
Naquelas primeiras horas já havia uma divergência entre as novas eminências, que prosperou por algum tempo. Na formação do Conselho de Intendência, primeira ação política do novo tempo, lá estavam Constantino, Detzi e Isidoro, mas, num cochilo, deixaram que a presidência caísse nas mãos de Antero José Lage Barbosa, que vinha do conselho anterior, de formação monarquista… Isso porque os republicanos tinham seus problemas internos. Como se viu na noite de 20 de julho de 1888, quando o notável pregador Silva Jardim veio para falar, no Teatro Provisório, na rua Halfeld, mas teve de sair do palco, até que o auditório parasse de brigar.
A IMPRENSA
Menos acomodados que os amigos do imperador, os simpáticos à república vinham se utilizando largamente da imprensa para a divulgação de seus planos de mobilização e estimular a população a apoiar o novo regime. Conta Almir de Oliveira em “A Imprensa em Juiz de Fora”, página 35, que “o combate à monarquia suscitou o jornalismo republicano”, mesmo que, em sua maioria, valendo-se de jornais de efêmera duração. O primeiro foi “A Bússola”, de 1881, semanário de três colunas, editado por Eduardo Ludolf e Carlos Muratori, tendo Inácio Gama como redator-chefe. Lembremo-nos que Inácio foi o primeiro historiador da cidade.
Depois, vieram “O Echo do Povo”, em cujas páginas vai surgir o mais agitado dos nossos republicanos, João Severiano Fonseca Hermes, antecedendo o lançamento de “A Propaganda”, em 1886. Ali estavam, além de Hermes, Constantino Paleta, João D’Ávila, Avelino Lisboa, precedendo a circulação do “15 de Novembro”, de Leovegildo Apense. Treze anos depois, 1894, mesmo com a república constitucionalizada, temeroso de que a monarquia ainda era uma ameaça, Estêvam de Oliveira criou o “Correio de Minas”. Custou acreditar que a História havia virado a página.